

Trump "agradece" a Bukele, que está "disposto a ajudar" os EUA com imigração
"Estamos muito dispostos a ajudar", afirmou nesta segunda-feira (14) na Casa Branca o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, a um Donald Trump encantado ao ouvir o que lhe dizia seu melhor amigo da América Latina, que prendeu centenas de imigrantes deportados por Washington.
A sintonia entre o presidente salvadorenho e o americano ficou evidente durante o início do encontro no Salão Oval, de longe o mais descontraído até agora do segundo mandato do republicano.
"Estão nos ajudando. Agradecemos por isso", disse Trump cercado pela alta cúpula de seu gabinete, incluindo o chefe da diplomacia dos EUA, Marco Rubio, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, e a procuradora-geral Pam Bondi.
"Estamos muito contentes e muito dispostos a ajudar", afirmou Bukele.
"Na verdade, senhor presidente, o senhor precisa libertar 350 milhões" de americanos dos criminosos, mas para isso "precisa prender alguns. É assim que funciona, não é?", opinou o mandatário salvadorenho, que assim como Trump trava uma guerra contra as gangues.
Trump concordou. Também houve acordo sobre o destino do imigrante salvadorenho Kilmar Ábrego García, deportado "por engano", segundo reconhece a administração americana.
- "Não tenho esse poder" -
A Justiça americana pede que o governo facilite seu retorno, mas a Casa Branca discorda.
Trump deu a palavra a vários membros de seu gabinete para que explicassem por que não querem.
"Nenhum tribunal dos Estados Unidos tem o direito de dirigir a política externa dos Estados Unidos. É simples assim, fim de papo", decretou Rubio.
Os jornalistas perguntaram a Bukele. "Como posso enviá-lo de volta aos Estados Unidos? Como se estivesse entrando com ele clandestinamente nos Estados Unidos? (...) Não tenho o poder de enviá-lo de volta aos Estados Unidos", respondeu.
O governo enviou centenas de imigrantes em situação irregular, sobretudo venezuelanos, para uma megaprisão de segurança máxima em El Salvador, invocando a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, que até então só havia sido usada em tempos de guerra.
A administração Trump acusa-os, sem provas, de fazerem parte de gangues.
Pelo primeiro grupo, com mais de 200 pessoas, o governo americano pagou seis milhões de dólares (R$ 35 milhões) a El Salvador, segundo a Casa Branca. O último, com 10 pessoas, chegou no fim de semana.
Vai enviar mais? "Quantos for possível", respondeu Trump, que também não descarta expulsar cidadãos americanos.
"Sou a favor, porque podemos fazer coisas com o presidente por menos dinheiro e ter uma grande segurança. E temos uma população carcerária enorme", explicou o magnata republicano, embora tenha ressaltado que a viabilidade legal está sendo examinada.
Houve momentos para piadas.
- "Parece um adolescente" -
"Tenho a melhor das relações com ele. Nós nos conhecemos. Conheço-o desde que era muito jovem, como eu disse, muito, muito jovem. E ele me impressionou. Eu disse: olha esse cara. Na verdade, parece um adolescente", comentou Trump sobre Bukele, que certa vez se descreveu como um "ditador descolado".
Bukele é o primeiro presidente latino-americano a pisar no Salão Oval da Casa Branca durante o segundo mandato de Trump, que já recebeu outros, mas em sua residência privada na Flórida.
O encontro acontece em meio ao 'Tarifaço' de Trump, do qual El Salvador não escapou. Paga os 10% mínimos universais impostos por Washington a todos os seus parceiros para reduzir o déficit comercial, sanear as finanças públicas e relocalizar muitas atividades industriais.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações salvadorenhas, sobretudo de roupas, condensadores elétricos, açúcar e café, segundo o Banco Central de El Salvador.
Os 2,5 milhões de salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos são um pilar para a economia do país centro-americano por meio das remessas que enviam.
El Salvador recebeu 8,48 bilhões de dólares (R$ 49,5 bilhões) em remessas familiares em 2024, o que representa 23% do PIB do país.
Embora Trump tenha prometido deportações em massa de imigrantes em situação irregular, El Salvador parece gozar de um tratamento preferencial.
O Estatuto de Proteção Temporária para salvadorenhos continua em vigor, apesar de ser uma proteção para estrangeiros que não podem retornar com segurança a seus países — e segundo Washington, El Salvador é ultrasseguro.
Tanto que neste mês o Departamento de Estado elevou a classificação de El Salvador do nível 2, que compartilhava com países como Espanha ou França, para o nível 1, o melhor, um aceno à indústria turística salvadorenha.
Mais uma prova de que ficou para trás a desconfiança do governo do ex-presidente democrata Joe Biden em relação ao país centro-americano.
E.Choi--ThChM